8 de julho de 2013

sendo uma hipócrita de coração mole

Escrevo aqui porque vivi uma parcela (minúscula) do que pessoas vivem rotinamente, longe dos olhos e do tato de uma vida privilegiada - como a minha. Escrevo à flor da pele, sentindo ainda os olhos, a boca, a garganta, a pele arder, e o sangue pulsar.
A(quela) realidade sempre me foi cega, aliás, fui cega à(quela) realidade que nunca precisei pisar e conhecer, e que vive mascarada. Nunca a toquei, não me era necessário, não era informada o suficiente, não sabia que ela era assim, mascarada e mais real, diferente do que se ouve falar ou se vê na TV. A realidade da covardia.
Demorei dias para digerir, aceitar e entender a tanta informação, imagens e sentidos, mas, agora, tudo flui aqui dentro. Não tenho mais azias de má digestão, tenho ânsias pela dose de realidade e COVARDIA que me foi dada, sem pedir. A multidão nas ruas trouxe a tona uma covardia que anda mascarada pela desigualdade, e vive de mãos dadas com desinteresse, o egoísmo e a manipulação (sim, a manipulação).
Eu corri (muito) de quem deveria me proteger, e os outros que corriam ao meu lado também, em meio a gritos de desespero sem ter pra onde ir. Senti medo por encontrar pessoas(?) fardadas treinadas (para matar sem matar - aquele dia), que agem como robôs. Algumas tinham rosto e nome, outras só rosto, e outras não tinham nada, eram totalmente encobertas pela covardia aparelhada, financiada pelos meus pais, pelos seus, pelos meus professores, por quem pingava sangue por apenas estar lá, por quem chorava ardência no trajeto do trabalho ao lar, pelos cidadãos. Ouvi barulhos desconhecidos, senti cheiros e sensações nunca sentidos, tive medo por não ter pra onde correr. Presenciei dias de luta na rua (que continuam e continuarão), e também, uma guerra estranha no centro de uma tal "Cidade Maravilhosa". Uma guerra desconexa, sem início, sem meio, sem fim.
Tentava ver a correria, mas só via fumaça, fogo, escuridão e multidão correndo para o claro, chegando no escuro. Chorei de dor de medo, mais do que isso, chorei de dor de raiva, indignação, ódio.  Eles andam encobertos pela covardia, se misturam no escuro e brincam de fazer chuva de bomba, parece que gostam do desespero, não parecem seres humanos ali, naquela situação. Mais horripilante foi sentar com a multidão ilhada, sem ter o que fazer a não ser esperar com medo, e pensar que há pessoas acostumadas ao que pra mim foi inédito, que já estão anestesiadas pelo barulho que tira a paz e a calma do interior de cada um. 
Me doeu a minha distância da realidade da maioria que fala mas não tem voz. Passou pelo meu pensamento e físico a sensação de que lá haveria morte, e quem já se acostumou com isso? É possível conviver com esse medo? Isso não pode ser normal. 

(Rio de Janeiro - 20 de junho de 2013)


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