31 de maio de 2012

"tetracloreto de carbono é cancerígeno. e agora?"

Lembra-te do clorofórmio nos jalecos, gosto doce que dá tontura engraçada e vontade de dormir até babar. Ácidos que caiam nas peles, que doiam, e no âmbito do desespero joga água pra melho.."Ai para que minha mão vai derreter! Joga outra coisa logo, qualquer coisa que tá doendo!"Uns vários tubos de ensaio quebrados e queimados. Misturas de tudo que havia na bancada pra tentarmos achar uma cor bonita pro capilar da orelha. Fetos de camundongos redondinhos em potes de formol. Lagarta albina gigante peluda horrenda na prateleira do laboratório: "Surpresa!".
Lagartas por todos os caminhos: da cantina ao laboratório, à sala, à saída. Olha pro chão pra mim, e não me fala se tem alguma delas por aí. Entra na sala correndo e chorando em ataque, absolutamente descontrolada. Chorar nos seus braços e ignorar a figura da 'autoridade' na sala. "Viu lagarta, certeza. Ela tem medofobia, professor." E você me acalma e agita a alma.

Desenhos feitos com pissetas nas costas de jaleco branco. Ylang-Ylang de sais de banho. Cápsulas poucas pra encapsular, e gente muita pra ajudar. Exames de sangue. Veias perfuradas e um erro que te custou uma punção arterial doída, por falta de experiência. Tu que me ajudastes a tirar os únicos poucos mls de sangue que consegui analisar. Conta leucócitos, conta basófilos, conta neutrófilos, conta eosinófilo, conta monócitos... mas são todas (quase) iguais. Exames de urina, mas nunca uma infecção detectada. Exames de fezes embolorada ao final do semestre. Exames de esperma que o hospital me tirou o privilégio de examinar.
Dores de amor que você acalmou com calor. Choros e desmaios tantos, dores muitas que você segurou com o coração e me guiou pela mão. 
Uma festa surpresa e uma festa juntas. 
Tipos diversos de bactérias e fungos respirados, e cheiro agradável de meio de cultura podre. Cor podre de bactérias mortas. Coca-Cola. Laminário. Herbário. Geleia com vodka e bolacha. Comidas feitas com ingredientes improvisados por culpa da memória. Cadeira de roas quebrada. Análises eternas de maioneses. Trabalho eterno que de tão errado, deu certo.
Minhas e suas broncas. Nossas raivas compartilhadas e colocadas dentro dos armários juntas com nossa maleta. Tu que sumias e eu brigava, que quando eu sumia tu me brigavas.Não pode ignorar. O tempo vai (mais)passar e ...
Tu, que me foste quase uma eu. que me centrava a cabeça. que me tirava (umas vezes) do caminho. Que colhia mexericas verdes amargas e comia azeitonas. Imagine, nós a sentar num banco de um pátio sujo qualquer, a tentar decorar nomes e fórmulas difíceis pra provas fáceis. Imagina, rebobinar essa fita da vida e apertar o play de novo, só pra ver e lembrar desses dias que com você escolhi passar.