18 de junho de 2010

Eu aceitei, e contei a minha história pra ela .

Eu contei que quando era pequeno, eu empinava pipa o dia inteiro, mas o que eu gostava mesmo, era de laçar tudo que era fio. Eu deixei tantas pipas presas naqueles postes, que eu tinha certeza que um dia a minha rua ia sair voando.
Outra coisa que eu adorava, era ir no Bar do seu Jorge. Eu tinha um super poder que fazia ele mudar de cor.
Seu Jorge era casado com a Vilma. A Vilma era uma giganta que vendia beiju. Ela tinha as pernas mais compridas do mundo.
Quem sempre ficava na frente do bar, era o seu Artur. Ele tinha uma bicicleta que cuspia fogo, e sempre tava com uma faca na mão. Mas eu não tinha medo dele.
Eu tinha medo era do seu Atista. Ele ficava o tempo todo dizendo que o mundo ia acabar.
A minha mãe era lavadeira. Ela deixava as roupas tão brancas que parecia que ela pendurava nuvens no varal.
Eu morava com ela, e com meus nove irmãos. Eu era o menor de todos, o caçula.
A gente morava numa casa com teto de zinco. Ele deixava a casa tão quente, mas tão quente, que se você entrasse com uma galinha viva, num instante, ela saia assada.
Domingo era dia de frango, mas um dia o frango sumiu, depois foram as laranjas que a gente comia de sobremesa. Depois sumiu feijão, depois sumiu arroz, só sobrou mesmo, a canjiquinha.
Mesmo sem frango, eu gostava do domingo porque era o dia que a gente ia ver televisão da casa do seu José, que era a única televisão da rua.
A FEBEM só podia aceitar um dos filhos da minha mãe, e como eu era o caçula, ela me escolheu.
Eu fiquei todo feliz porque pela primeira vez na vida, eu tava sendo escolhido por alguma coisa, e os meu irmão ficaram morrendo de inveja.

(O Contador de Histórias)

Nenhum comentário:

Postar um comentário