4 de junho de 2010

Estava eu, sentado num banco de uma praça qualquer do centro da cidade, em frente a um boteco velho, cheio de homens fétidos, observando o movimento das ruas, do céu, as pessoas e seus cabelos. As pessoas expressam o que estão sentido apenas pelo seu jeito de andar, é inconsciente, mas se você parar e reparar, você percebe; e com minha experiência de vida bem vivida, aprendi com o tempo a interpretar bem os passos. Naquela tarde de quinta ensolarada e com ventos levados as folhas de um lado para o outro, muitos passos passam, e poucos me chamam a atenção, a não ser os passos pequenos, apertados e irregulares de uma criança, que aparentava idade de primário. Ela estava andando de mãos dadas com a sua mãe. Olhando para o rosto da mulher, vi nos olhos dela, um desespero escondido, uma vontade de gritar e correr, mas não poder. Na pessoinha que segurava sua mão, o mesmo desespero estava escondido naquele olhar triste, e naqueles passos. Ela olhava ao redor procurando alguma coisa que temesse; como se algum afinal fosse lhe abocanhar. Minha vontade não era pouca de parar aquelas pessoas e lhe questionar o que estava acontecendo. Tinha uma vontade de ajudar, no que quer que fosse o que precisavam, porque pelos passos, não estava tudo bem, e elas não se esforçavam para disfarçar. Aqueles olhos, pareciam que queriam achar um lugar para se esconder até o que estava acontecendo de ruim passar. Queria poder ajudar, e eu podia ajudar, mas Deus, porque eu me impedi de parar e questionar aquelas mulheres?
Menos de uma semana depois, ouvi, sentado no mesmo banco em frente ao mesmo boteco, umas senhoras falando de um marido louco que matou a filha. Eu, nem me preocupei em me aprofundar no assunto. Cheguei em casa e peguei o jornal da cidade na mão, a foto daquela mulher estava em preto e branco num cantinho não muito chamativo da sessão policial. Li a reportagem, e sem querer, meus olhos encheram de lágrimas e meu coração bateu mais forte. Cheguei ao cemitério, para o enterro daquela mulher de olhos desesperados. A filha, chorava aos prantos num canto, com um bracinho engessado.
Chorei, como nunca havia chorado antes, e só pelo peso na minha consciência.

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